As
questões éticas estão se tornando um foco de interesse em todas as áreas da
atividade humana. Muitos artefatos desenvolvidos a partir de conhecimentos
científicos trazem avanços, resolvem problemas e repercutem na qualidade de
vida. Mas, a cada novo problema resolvido, quase sempre surgem questões éticas
associadas às soluções encontradas e seus desdobramentos.
As questões éticas ligadas
à pesquisa podem ser vistas sob dois ângulos. O primeiro, refere-se aos
impactos do uso de conhecimentos científicos na vida humana. O segundo, refere-se
à forma ou meios de obtenção do conhecimento no ambiente da pesquisa científica.
Em relação aos impactos
na vida humana, a pesquisa científica suscita questões éticas como: a solução encontrada
respeita o ser humano em seus aspectos físico, moral e psicológico? Em sua
autonomia? Em seus direitos? Em sua liberdade? Já em relação aos meios de
obtenção do conhecimento, as questões éticas relacionam-se à conduta e atitude
do cientista: os dados usados são confiáveis? O pesquisador teve atitude ética
de respeito às pessoas envolvidas? Foi fiel aos dados obtidos? Há referências às fontes de informação? Algum
dado foi “fabricado”?
Esse último aspecto chama
a atenção pela quantidade de questões éticas surgidas ultimamente nos meios de
produção científica. São tantos, que justificaram a criação de órgãos de avaliação
da pesquisa científica, sob o ponto de vista ético. Uma das maiores
organizações para essa finalidade é o Office
of Research Integrity – ORI – Escritório
de Integridade na Pesquisa (www.ori.hhs.gov) – criado pelo Departamento de Saúde do governo
Americano em 1992, com o objetivo de promover a ética e integridade na pesquisa,
na área da saúde.
A partir da década de
1990, organizações e comitês de ética na pesquisa, resumiram em três palavras
os pecados capitais da conduta
irresponsável no meio científico: a mentira,
a falsificação e o plágio. É a trilogia da impostura científica.
O site www.ori.hhs.gov mostra casos recentes
de fraudes assumidas por cientistas renomados em vários países: Austrália,
Canadá, China, Alemanha, Índia, Israel, Japão, Noruega, EUA, etc. São pesquisadores
que perderam suas credenciais, foram desligados de suas instituições e ainda levaram
junto, para o descrédito, alunos-pesquisadores com suas teses e publicações
anuladas. São casos de cientistas que falsificaram dados, cometeram plágio, ignoraram
dados contrários a trabalhos anteriores ou simplesmente não documentaram suas
pesquisas.
Os
impactos de condutas irresponsáveis no meio científico são muitos: perda de
confiança do público na pesquisa científica, desconfiança mútua entre
pesquisadores, além do inevitável descrédito. É desalentador vermos pensamentos
e atitudes contrários à ética se espalhando no ambiente científico, seguindo o
ritmo da decadência moral que assola a humanidade. É um abalo preocupante nas
bases de uma instituição das mais confiáveis ao longo da história.
A presença da impostura
no ambiente mental do mundo foi apontada, pela primeira vez, por González
Pecotche em 1959 (O Senhor De Sándara,
p. 468), quando resumiu na falsidade,
mistificação e embuste a trilogia do que ele chamou de Grande Impostura. Ao que parece, essa trilogia está se reproduzindo
em todos os ambientes mentais do mundo, incluindo o científico.
A
ocorrência de condutas irresponsáveis no mundo científico não é, de modo algum,
uma falha ou problema da Ciência em si, mas é uma deficiência de natureza psicológica
do ser humano, neste caso, dos cientistas, que afeta sua condição moral e ética.
Para a honra do gênero humano, ainda é maior o número de cientistas e
pesquisadores sérios e responsáveis. Prevalecem aqueles que edificaram, com uma
conduta ética elevada, um conceito de respeito e credibilidade. Até agora, está
vencendo a trilogia da verdade, clareza e honestidade. Uma vitória que precisa ser mantida e ter sua vantagem
ampliada, para o bem e defesa do nosso próprio futuro.
Eduardo F. Barbosa - Dezembro/2011
Veja também: http://www.cnpq.br/normas/lei_po_085_11.htm