segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Reflexões sobre a ética na pesquisa científica

                                               
As questões éticas estão se tornando um foco de interesse em todas as áreas da atividade humana. Muitos artefatos desenvolvidos a partir de conhecimentos científicos trazem avanços, resolvem problemas e repercutem na qualidade de vida. Mas, a cada novo problema resolvido, quase sempre surgem questões éticas associadas às soluções encontradas e seus desdobramentos.
As questões éticas ligadas à pesquisa podem ser vistas sob dois ângulos. O primeiro, refere-se aos impactos do uso de conhecimentos científicos na vida humana. O segundo, refere-se à forma ou meios de obtenção do conhecimento no ambiente da pesquisa científica.
Em relação aos impactos na vida humana, a pesquisa científica suscita questões éticas como: a solução encontrada respeita o ser humano em seus aspectos físico, moral e psicológico? Em sua autonomia? Em seus direitos? Em sua liberdade? Já em relação aos meios de obtenção do conhecimento, as questões éticas relacionam-se à conduta e atitude do cientista: os dados usados são confiáveis? O pesquisador teve atitude ética de respeito às pessoas envolvidas? Foi fiel aos dados obtidos?  Há referências às fontes de informação? Algum dado foi “fabricado”?
Esse último aspecto chama a atenção pela quantidade de questões éticas surgidas ultimamente nos meios de produção científica. São tantos, que justificaram a criação de órgãos de avaliação da pesquisa científica, sob o ponto de vista ético. Uma das maiores organizações para essa finalidade é o Office of Research Integrity – ORI –  Escritório de Integridade na Pesquisa (www.ori.hhs.gov) – criado pelo Departamento de Saúde do governo Americano em 1992, com o objetivo de promover a ética e integridade na pesquisa, na área da saúde.
A partir da década de 1990, organizações e comitês de ética na pesquisa, resumiram em três palavras os pecados capitais da conduta irresponsável no meio científico: a mentira, a falsificação e o plágio. É a trilogia da impostura científica.
O site www.ori.hhs.gov mostra casos recentes de fraudes assumidas por cientistas renomados em vários países: Austrália, Canadá, China, Alemanha, Índia, Israel, Japão, Noruega, EUA, etc. São pesquisadores que perderam suas credenciais, foram desligados de suas instituições e ainda levaram junto, para o descrédito, alunos-pesquisadores com suas teses e publicações anuladas. São casos de cientistas que falsificaram dados, cometeram plágio, ignoraram dados contrários a trabalhos anteriores ou simplesmente não documentaram suas pesquisas.
Os impactos de condutas irresponsáveis no meio científico são muitos: perda de confiança do público na pesquisa científica, desconfiança mútua entre pesquisadores, além do inevitável descrédito. É desalentador vermos pensamentos e atitudes contrários à ética se espalhando no ambiente científico, seguindo o ritmo da decadência moral que assola a humanidade. É um abalo preocupante nas bases de uma instituição das mais confiáveis ao longo da história.  
A presença da impostura no ambiente mental do mundo foi apontada, pela primeira vez, por González Pecotche em 1959 (O Senhor De Sándara, p. 468), quando resumiu na falsidade, mistificação e embuste a trilogia do que ele chamou de Grande Impostura. Ao que parece, essa trilogia está se reproduzindo em todos os ambientes mentais do mundo, incluindo o científico.
A ocorrência de condutas irresponsáveis no mundo científico não é, de modo algum, uma falha ou problema da Ciência em si, mas é uma deficiência de natureza psicológica do ser humano, neste caso, dos cientistas, que afeta sua condição moral e ética. Para a honra do gênero humano, ainda é maior o número de cientistas e pesquisadores sérios e responsáveis. Prevalecem aqueles que edificaram, com uma conduta ética elevada, um conceito de respeito e credibilidade. Até agora, está vencendo a trilogia da verdade, clareza e honestidade. Uma vitória que precisa ser mantida e ter sua vantagem ampliada, para o bem e defesa do nosso próprio futuro.
Eduardo F. Barbosa - Dezembro/2011

A internet e o exercício de pensar



Quem não fica impressionado quando faz uma pesquisa na internet e tem como respostas exatamente o que estava procurando? Simples coincidência? Ou o sistema é muito eficiente?
Se pensarmos que as primeiras respostas mostradas são algumas entre milhões de itens que estão nas bases de dados da Internet, podemos descartar a simples coincidência. Então, ficamos com a eficiência do sistema. Mas seria uma “eficiência” isenta de manipulações do sistema de busca? Ou o mecanismo de busca tem meios para escolher o que quer nos mostrar?
O fato é que pessoas diferentes podem ter respostas diferentes, mesmo usando palavras iguais na pesquisa. Isso significa que o sistema de buscas cria um perfil a partir de consultas anteriores – histórico de buscas – e conhece nossas preferências. Significa também que o sistema pode escolher o que quer nos mostrar em primeiro lugar, tendo como base o nosso perfil de buscas. Isso é bom ou ruim? Depende.   
Olhando pelo lado da necessidade de respostas sobre temas muito específicos, as buscas podem ficar ainda mais eficientes. Mas, como fica a preservação da privacidade individual? Dados enviados por você são acumulados pelo sistema e definem suas preferências. Isso explica porque as pessoas recebem respostas diferentes para a mesma busca. Para comprovar basta comparar nossa pesquisa com a de um colega, sobre o mesmo termo, cada um usando seu computador. Esse fato também explica porque algumas pessoas recebem anúncios, ofertas e sugestões diferentes de outras. É a personalização da tecnologia da informação.
Os sistemas de buscas mais populares declaram que usam o perfil do usuário, mas oferecem a opção de desativar a criação desse perfil, usando uma janela anônima. Contudo, não há garantias de que essa desativação impeça que seu perfil continue sendo levantado e – o pior – sendo usado para fins diversos, incluindo a comercialização de seus dados e preferências. Mesmo com a opção de histórico desativada, tudo que é digitado continua sendo enviado ao sistema.
Quais as conseqüências da personalização de buscas na Internet? Uma delas é que nossas preferências são reforçadas, assim como nossas opiniões sobre determinado assunto. Por exemplo: se você costuma fazer pesquisas na internet em busca de publicações sobre os impactos do aquecimento global, é provável que receba indicações de sites que reforcem esta idéia. Já alguém que faz buscas de publicações que defendem a ideia de que o aquecimento global é um mito, tem maior probabilidade de receber indicações de sites que reforcem este ponto de vista.
Se formos expostos a pensamentos e idéias que apenas reforçam as que já temos, evitando visões diferentes da nossa, vamos estimular a inércia mental. A inteligência não tem que pensar, analisar, comparar e se posicionar criticamente diante do assunto em foco. Alguém pode argumentar, dizendo que a personalização de buscas é boa para os especialistas. O sistema daria respostas sempre dentro do assunto de sua especialidade. É verdade. Mas, ainda assim, não seria valioso conhecer preferências diferentes da sua? Afinal, a quem interessa essa personalização?
É ainda cedo para avaliar as conseqüências de longo prazo do potencial de manipulações das tecnologias da informação. Mas há motivos suficientes para ficarmos atentos a essas sutilezas dos sistemas que usamos, às vezes sem perceber sua influência sobre nossa maneira de pensar e ver a realidade. Vale lembrar que o perfil de uma cidade, uma região ou de um país inteiro pode ser levantado e usado, com a mesma facilidade, para direcionar, seletivamente, o fornecimento de informações a grandes comunidades. Está disponível, portanto, um poderoso meio de influência, para o bem ou para o mal, dependendo de quem estiver no comando.
Conclusão: nunca foi tão necessário aprender a pensar. É a melhor defesa que podemos criar contra os riscos do engano, quando o assunto é a manipulação da informação. E o exercício de pensar não requer instalações especiais, equipamentos complexos, nem custa caro. É uma função da inteligência que está à nossa disposição o tempo todo e em qualquer lugar para resolver, criar, decidir, analisar e selecionar.
Essas reflexões indicam a necessidade de ensinar aos jovens a usar bem seu mecanismo pensante, tão útil para preservar sua integridade física, moral e psicológica, em um mundo cada vez mais complexo e dependente do uso inteligente de sistemas de informação.

Eduardo F Barbosa - Dezembro/2011
Para  ver outros aspectos relacionados com esse tema, acesse o TED.COM