segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A internet e o exercício de pensar



Quem não fica impressionado quando faz uma pesquisa na internet e tem como respostas exatamente o que estava procurando? Simples coincidência? Ou o sistema é muito eficiente?
Se pensarmos que as primeiras respostas mostradas são algumas entre milhões de itens que estão nas bases de dados da Internet, podemos descartar a simples coincidência. Então, ficamos com a eficiência do sistema. Mas seria uma “eficiência” isenta de manipulações do sistema de busca? Ou o mecanismo de busca tem meios para escolher o que quer nos mostrar?
O fato é que pessoas diferentes podem ter respostas diferentes, mesmo usando palavras iguais na pesquisa. Isso significa que o sistema de buscas cria um perfil a partir de consultas anteriores – histórico de buscas – e conhece nossas preferências. Significa também que o sistema pode escolher o que quer nos mostrar em primeiro lugar, tendo como base o nosso perfil de buscas. Isso é bom ou ruim? Depende.   
Olhando pelo lado da necessidade de respostas sobre temas muito específicos, as buscas podem ficar ainda mais eficientes. Mas, como fica a preservação da privacidade individual? Dados enviados por você são acumulados pelo sistema e definem suas preferências. Isso explica porque as pessoas recebem respostas diferentes para a mesma busca. Para comprovar basta comparar nossa pesquisa com a de um colega, sobre o mesmo termo, cada um usando seu computador. Esse fato também explica porque algumas pessoas recebem anúncios, ofertas e sugestões diferentes de outras. É a personalização da tecnologia da informação.
Os sistemas de buscas mais populares declaram que usam o perfil do usuário, mas oferecem a opção de desativar a criação desse perfil, usando uma janela anônima. Contudo, não há garantias de que essa desativação impeça que seu perfil continue sendo levantado e – o pior – sendo usado para fins diversos, incluindo a comercialização de seus dados e preferências. Mesmo com a opção de histórico desativada, tudo que é digitado continua sendo enviado ao sistema.
Quais as conseqüências da personalização de buscas na Internet? Uma delas é que nossas preferências são reforçadas, assim como nossas opiniões sobre determinado assunto. Por exemplo: se você costuma fazer pesquisas na internet em busca de publicações sobre os impactos do aquecimento global, é provável que receba indicações de sites que reforcem esta idéia. Já alguém que faz buscas de publicações que defendem a ideia de que o aquecimento global é um mito, tem maior probabilidade de receber indicações de sites que reforcem este ponto de vista.
Se formos expostos a pensamentos e idéias que apenas reforçam as que já temos, evitando visões diferentes da nossa, vamos estimular a inércia mental. A inteligência não tem que pensar, analisar, comparar e se posicionar criticamente diante do assunto em foco. Alguém pode argumentar, dizendo que a personalização de buscas é boa para os especialistas. O sistema daria respostas sempre dentro do assunto de sua especialidade. É verdade. Mas, ainda assim, não seria valioso conhecer preferências diferentes da sua? Afinal, a quem interessa essa personalização?
É ainda cedo para avaliar as conseqüências de longo prazo do potencial de manipulações das tecnologias da informação. Mas há motivos suficientes para ficarmos atentos a essas sutilezas dos sistemas que usamos, às vezes sem perceber sua influência sobre nossa maneira de pensar e ver a realidade. Vale lembrar que o perfil de uma cidade, uma região ou de um país inteiro pode ser levantado e usado, com a mesma facilidade, para direcionar, seletivamente, o fornecimento de informações a grandes comunidades. Está disponível, portanto, um poderoso meio de influência, para o bem ou para o mal, dependendo de quem estiver no comando.
Conclusão: nunca foi tão necessário aprender a pensar. É a melhor defesa que podemos criar contra os riscos do engano, quando o assunto é a manipulação da informação. E o exercício de pensar não requer instalações especiais, equipamentos complexos, nem custa caro. É uma função da inteligência que está à nossa disposição o tempo todo e em qualquer lugar para resolver, criar, decidir, analisar e selecionar.
Essas reflexões indicam a necessidade de ensinar aos jovens a usar bem seu mecanismo pensante, tão útil para preservar sua integridade física, moral e psicológica, em um mundo cada vez mais complexo e dependente do uso inteligente de sistemas de informação.

Eduardo F Barbosa - Dezembro/2011
Para  ver outros aspectos relacionados com esse tema, acesse o TED.COM





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