Quem não fica impressionado quando
faz uma pesquisa na internet e tem como respostas exatamente o que estava procurando? Simples coincidência? Ou o
sistema é muito eficiente?
Se pensarmos que as primeiras respostas
mostradas são algumas entre milhões de itens que estão nas bases de dados da
Internet, podemos descartar a simples coincidência. Então, ficamos com a
eficiência do sistema. Mas seria uma “eficiência” isenta de manipulações do sistema
de busca? Ou o mecanismo de busca tem meios para escolher o que quer nos
mostrar?
O fato é que pessoas diferentes
podem ter respostas diferentes, mesmo usando palavras iguais na pesquisa. Isso
significa que o sistema de buscas cria um perfil a partir de consultas anteriores
– histórico de buscas – e conhece nossas preferências. Significa também que o sistema
pode escolher o que quer nos mostrar em primeiro lugar, tendo como base o nosso
perfil de buscas. Isso é bom ou ruim? Depende.
Olhando pelo
lado da necessidade de respostas sobre temas muito específicos, as buscas podem
ficar ainda mais eficientes. Mas, como fica a preservação da privacidade
individual? Dados enviados por você são acumulados pelo sistema e definem suas
preferências. Isso explica porque as pessoas recebem respostas diferentes para
a mesma busca. Para comprovar basta comparar nossa pesquisa com a de um colega,
sobre o mesmo termo, cada um usando seu computador. Esse fato também
explica porque algumas pessoas recebem
anúncios, ofertas e sugestões diferentes de outras. É a personalização da tecnologia da informação.
Os sistemas de buscas mais populares
declaram que usam o perfil do usuário, mas oferecem a opção de desativar a
criação desse perfil, usando uma janela
anônima. Contudo, não há garantias de que essa desativação impeça que seu
perfil continue sendo levantado e – o pior – sendo usado para fins diversos,
incluindo a comercialização de seus dados e preferências. Mesmo com a opção de
histórico desativada, tudo que é digitado continua sendo enviado ao sistema.
Quais as conseqüências da
personalização de buscas na Internet? Uma delas é que nossas preferências são
reforçadas, assim como nossas opiniões sobre determinado assunto. Por exemplo:
se você costuma fazer pesquisas na internet em busca de publicações sobre os
impactos do aquecimento global, é provável que receba indicações de sites que
reforcem esta idéia. Já alguém que faz buscas de publicações que defendem a ideia
de que o aquecimento global é um mito, tem maior probabilidade de receber
indicações de sites que reforcem este ponto de vista.
Se formos expostos a pensamentos e
idéias que apenas reforçam as que já temos, evitando visões diferentes da nossa,
vamos estimular a inércia mental. A inteligência não tem que pensar, analisar,
comparar e se posicionar criticamente diante do assunto em foco. Alguém pode argumentar,
dizendo que a personalização de buscas é boa para os especialistas. O sistema
daria respostas sempre dentro do assunto de sua especialidade. É verdade. Mas, ainda
assim, não seria valioso conhecer preferências diferentes da sua? Afinal, a
quem interessa essa personalização?
É ainda cedo
para avaliar as conseqüências de longo prazo do potencial de manipulações das
tecnologias da informação. Mas há motivos suficientes para ficarmos atentos a
essas sutilezas dos sistemas que usamos, às vezes sem perceber sua influência
sobre nossa maneira de pensar e ver a realidade. Vale lembrar que o perfil de
uma cidade, uma região ou de um país inteiro pode ser levantado e usado, com a
mesma facilidade, para direcionar, seletivamente, o fornecimento de informações
a grandes comunidades. Está disponível, portanto, um poderoso meio de influência,
para o bem ou para o mal, dependendo de quem estiver no comando.
Conclusão: nunca
foi tão necessário aprender a pensar. É a melhor defesa que podemos criar contra
os riscos do engano, quando o assunto é a manipulação da informação. E o
exercício de pensar não requer instalações especiais, equipamentos complexos,
nem custa caro. É uma função da inteligência que está à nossa disposição o
tempo todo e em qualquer lugar para resolver, criar, decidir, analisar e
selecionar.
Essas reflexões
indicam a necessidade de ensinar aos jovens a usar bem seu mecanismo pensante,
tão útil para preservar sua integridade física, moral e psicológica, em um
mundo cada vez mais complexo e dependente do uso inteligente de sistemas de
informação.
Eduardo F Barbosa - Dezembro/2011
Para ver outros aspectos relacionados com esse tema, acesse o TED.COM:
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